Ramiro Sirpa disse que família está em choque. Pai, mãe e filho de 8 anos foram encontrados mutilados dentro de malas em Itaquaquecetuba; principal suspeito é tio do menino e está foragido.
Um primo da família de bolivianos encontrada morta e mutilada em uma casa em Itaquaquecetuba, na terça-feira (8), foi uma das últimas pessoas a ver o menino Gian Abner Morante Condori, de 8 anos, com vida. Ele disse que o deixou com um tio, o principal suspeito do crime, no dia 23 de dezembro.
Em entrevista ao G1 por telefone nesta quinta-feira (10), Ramiro Sirpa disse que deixou o menino no dia 23 com o tio e principal suspeito do crime: Gustavo Vargas Arias. Segundo Ramiro, desde então o suspeito dava informações desencontradas.
“O Gustavo disse primeiro que eles tinham ido para a Bolívia, mas a nossa família de lá não confirmava isso. Depois ele disse que tinham ido para o interior de São Paulo ver uma casa mais em conta para alugar. Quando eu perguntei o endereço, ele disse que não se lembrava. A gente se assustou e começou a procurar.”
A família está em choque. Ramiro contou que o menino Gian passou o dia 23 brincando na sua casa, na companhia da filha dele, que tem a mesma idade.
“Ele gostava de brincar com a minha filha e passou o dia aqui. Lá por volta das 20h, como eles não vieram buscar, eu fui levar o menino. Mas ele sempre vinha buscar. Eu liguei no celular do Jesus, ele não atendeu e estava chovendo. Chegando na casa deles, ninguém atendeu. Quem saiu foi o Gustavo. Eu perguntei dos pais e ele disse que tinham ido ao mercado, mas eu vi que a televisão estava ligada e a luz estava acesa e achei estranho. Ele me disse que tinham esquecido e, como ele era da família, eu não desconfiei e deixei o menino com ele.”
Após isso, Ramiro e a sua esposa nunca mais conseguiram contato com a família.
A família de Jesus estava morando no Brasil há 18 anos e sempre trabalhou com confecção. Já o suspeito, Gustavo, estava há oito anos no país e há um ano começou a trabalhar com a família.
O caso repercutiu na imprensa boliviana.
Investigação
O delegado Eliardo Jordão afirma que a motivação do crime pode ter sido financeira. O principal suspeito, Gustavo, estaria de olho nos negócios da família.
“Chegam informações desencontradas. Uma delas é de que seria por dinheiro. Outra que o principal suspeito estaria de olho nos negócios da família. Mas ainda não é possível afirmar qual foi a motivação e não podemos descartar nenhuma delas”, pontua o delegado.
As vítimas são Jesus Reynaldo Condori Sanizo, de 39 anos, da sua esposa Irma Morante Sanizo e de Gian Abner Morante Condori, de 8 anos, filho do casal.
Nesta quarta, a Justiça decretou a prisão temporária de três suspeitos. Segundo o delegado Eliardo Jordão, o principal deles é Gustavo Vargas Arias, cunhado da mulher assassinada, que está foragido.
Os outros dois são Miguel Alvaro Bautista Silva e Roberto Kally Javier, amigos de Gustavo.
Em tratamento do câncer
Ainda de acordo com Ramiro Sirpa, o primo Jesus Reynaldo Condori Sanizo, de 39 anos, já tinha passado por uma cirurgia para retirada do câncer, teve um derrame e, inclusive, tinha uma consulta marcada para este mês de janeiro.
Ramiro é esposo da prima de Irma Morante Sanizo, a esposa de Jesus. Os dois casais eram próximos e tinham muito contato em São Paulo. Ramiro conta que, a todo momento, Jesus reforçava a sua esperança na cura. “Ele estava melhorando e não queria perder a família. Ele tinha muita vontade de viver.”
Jesus foi diagnosticado com um tumor na cabeça há três anos e, desde então, fez uma cirurgia e passava regulamente por consultas médicas. Durante esse período, ele também teve um derrame e os médicos disseram que o tumor tinha voltado.
A próxima consulta médica estava marcada para janeiro. “Ele era meu amigo, um cara de bem, muito querido. Ele lutou muito para viver e morrer desse jeito é terrível.”
O crime
Os corpos de Jesus Reynaldo Condori Sanizo, de 39 anos, da sua esposa Irma Morante Sanizo e de Gian Abner Morante Condori, de 8 anos, filho do casal, foram encontrados mutilados e enrolados em sete camadas de plástico em três malas grandes, uma caixa e dois pacotes, segundo a polícia. Perto estava um serrote.
A família estava desaparecida desde dezembro. O caso já havia sido denunciado por parentes bolivianos à polícia.
Familiares da Bolívia devem chegar no início desta tarde para decidirem se o enterro será no Brasil ou se os corpos serão transportados até a Bolívia. Enquanto isso, Ramiro e a família dizem que continuam em choque. “Acabaram-se as minhas palavras e as lágrimas”, diz.